Documentário musical perfila década de 70 com esmero e autocensura

70? Década do Divino Maravilhoso

Obra que conquistou o sucesso popular entre 2016 e 2017, 60! Década de Arromba – Doc. Musical abriu a brecha para um novo filão mercadológico dentro do teatro musical: o documentário musical. Na obra criada por Frederico Reder e Marcos Nauer, um telão e um (numeroso) elenco de atores-cantores dialogam sobre os acontecimentos da década emoldurados por sucessos da época, contando com a participação de alguma estrela proeminente do período. 

Em “60”, obra inaugural do gênero, a ternurinha Wanderléa deu seu recado ao, mais uma vez, reviver as jovens tardes de domingo em um espetáculo que se destacou, principalmente, pela excelente direção musical assinada por Tony Lucchesi. Já em 70? Década do Divino Maravilhoso – Doc. Musical, ora em cartaz no Theatro Net SP, a ex-estrela da Jovem Guarda dá espaço para as estrelas da disco music dos anos 70 do Brasil: As Frenéticas. 

Dhu Moraes, Leiloca Neves e Sandra Pêra, componentes remanescentes do grupo que foi um dos mais populares da década, sobem ao palco para dividir causos e histórias, além de interpretar temas clássicos, como “Perigosa” (1977), “Vingativa” (1977), “Somos as Tais Frenéticas” (1977) e, claro, “Dancin Days” (1978).

Ciceroneadas por um elenco composto por 24 atores-cantores e uma orquestra de 10 músicos, as estrelas surgem no segundo ato e transformam o palco em uma boate, apelando para o já reconhecido deboche que as celebrizou há mais de 40 anos. 

Participação que ronda durante todo o musical, Baby do Brasil também se destaca pela excelente forma vocal, interpretando clássicos como o seu “Menino do Rio” (1979), sua versão de “Aquarela do Brasil” (1978) e o choro “Brasileirinho” (composto e lançado por Waldir Azevedo em 1947 e popularizado por Ademilde Fonseca em 1950, que Baby tomou pra si quando ainda fazia parte de um certo conjunto de nome Novos Baianos, em gravação de 1976). 

Sem uma dramaturgia clara, apesar da (ótima) pesquisa linear, o musical ganha ares de show e percorre com extrema exatidão acontecimentos históricos do Brasil, mas jamais se aprofunda em assuntos de viés político ou polêmico, como os anos de chumbo da ditadura militar e o desbunde promovido pela libertação sexual e o uso de drogas e lisérgicos. É um musical, como anunciado, “para a família”. 

Contudo, 70? Década do Divino Maravilhoso triunfa justamente por não buscar um lugar de seriedade dramatúrgica. Sabendo de suas limitações, o musical consegue construir um arco narrativo linear, que serve para o desenvolver das 150 canções apresentadas ao longo de três horas de espetáculo, amaciadas pela exemplar direção musical de Jules Vandystadt 

Ainda que falte a direção mão firme para podar excessos – principalmente vocais – que empanam o brilho de temas fortes, como “Gota D’Água” (1975), “Acontece” (1972) e “Sangrando” (1975), o musical consegue uma união cênica cativante – com um cenário móvel e um desenho de luz assinados por Césio Lima e Mariana Pitta. 

Em cartaz no Theatro Net, na Vila Olímpia, até 30 de junho, 70? Década do Divino Maravilhoso – Doc. Musical consagra o gênero criado pela dupla Reder e Nauer, mesmo que, no que diz respeito a esse título, muito do triunfo esteja no (excepcional) repertório criado na música popular na década de 1970. 

SERVIÇO: 
Data: 16 de março a 30 de junho (quinta a domingo) 
Local: Theatro Net SP – São Paulo (SP) 
Endereço: Shopping Vila Olímpia – Rua Olimpíadas, 360 – 5° Piso 
Horário: 20h30 (quintas e sextas); 17h e 21h (sábados); 15h e 19h (domingos) 
Preço do Ingresso: R$ 75,00 a R$ 220,00

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