Conservadora, peça sobre encontro fictício de Malcolm X e Martin Luther King Jr. recorre a elementos do teatro clássico

O Encontro Malcolm X e Martin Luther King | Foto: Julio Ricardo

Peça encenada com sucesso no Rio de Janeiro, O Encontro – Malcolm X e Martin Luther King Jr. aportou em São Paulo na noite da última quinta-feira, 01, para curtíssima – e concorrida – temporada no Teatro Anchieta do Sesc Consolação. A obra, uma ficção sobre um possível (e nunca realizado) encontro entre os líderes dos movimentos pela igualdade de pessoas negras nos Estados Unidos na década de 1950, toma como linguagem uma encenação focada no texto e no trabalho dos atores.

Sob a direção de Isaac Bernat, O Encontro se mostra um espetáculo de infinitas possibilidades, com uma premissa tão promissora quanto tocante. Entretanto, se baseando exclusivamente no texto do dramaturgo norte americano Jeff Stetson sob fluente adaptação e tradução de Rogério Corrêa, a encenação, que sai de cartaz no próximo domingo, dia 11, resulta apenas conservadora.

Com uma chama bastante branda, as personagens históricas são retratadas com um discurso que pouco reflete as conquistas que estes dois pilares da luta pelos direitos civis conquistaram com métodos diferentes, porém com a mesma finalidade, e no mesmo período.

Na pele de Malcolm X, Izak Dahora constrói uma personagem de tom complacente e pouco combativo, colocando em cheque sua interpretação de uma personalidade historicamente intempestiva.

Ao construir sua própria visão de X, contudo, Dahora consegue um bom desempenho e faz o que pode para valorizar o texto que, embora não tenha moldes irregulares, é tão conservador quanto a encenação proposta por Bernart, que tem lá suas passagens mais cômicas, mas se limita apenas a narração de um acontecimento, sem jamais constituir qualquer inovação na montagem.

E é esse o clima que permeia a encenação como um todo, que conta com um desenho de luz servil, e tanto cenário (assinado por Dóris Rollemberg) quanto figurino (de Desirée Bastos) soam tão triviais quanto o desenvolvimento dramatúrgico de Stetson que, a despeito do banho maria com o qual prepara o espetáculo, ainda faz ressoar alguma chama ardente do discurso de suas personagens.

Muito disso também se deve a força com a qual Rodrigo França encara seu Martin Luther King Jr., numa interpretação que, se não foge a alguns estereótipos do clássico pastor norte americano bonachão, também resulta mais intenso e mais verídico, sublinhando algumas (poucas) tensões propostas pela encenação.

Com alguns dos clássicos da música negra norte americana promovida entre as décadas de 1940 e 1960, executados ao vivo com refinada direção musical assinada por Serjão Loroza, O Encontro é peça que flerta com o teatro clássico da forma mais conservadora possível, o que, em outra montagem, não seria um demérito, mas, em se tratando de duas personagens que causaram uma revolução intempestiva nos padrões comportamentais dos Estados Unidos, deixa a desejar.

SERVIÇO

Data: 01 a 11 de agosto (quinta a domingo)

Local: Teatro Anchieta – Sesc Consolação – São Paulo (SP)

Endereço: R. Dr. Vila Nova, 245 – Vila Buarque

Horário: 21h (quinta a domingo); 18h (domingo)

Preço do ingresso: R$ 20,00 (meia) a R$ 40,00 (inteira) | R$ 12,00 (credenciados Sesc)

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