Escolha de Elizabeth Bishop para a Flip 2020 reacende discussão abafada em peça

Um Porto para Elizabeth Bishop | Foto: Joao Caldas

Em 1952 ao chegar ao Brasil, a poeta norte americana Elizabeth Bishop se apaixonou pelo país. Pelo clima, pela paisagem, pelas pessoas e, em especial, pela arquiteta Lota Macedo Soares, responsável por construir o Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro. 

O romance de Macedo e Bishop se tornou um dos pontos mais lembrados da passagem da poetisa, vencedora do Prêmio Pulitzer de literatura pelo Rio de Janeiro entre as décadas de 1950 e 1960.

E foi também o ponto primordial para a jornalista Marta Góes escrever Um Porto para Elizabeth Bishop, peça encenada em 2001 por Regina Braga sob a direção de José Possi Neto, num dos maiores êxitos teatrais da atriz, que realizou uma série de apresentações ao redor do Brasil, e chegou a estrear em turnês internacionais. 

Contudo, a despeito do sucesso, a encenação suscitou uma série de discussões a respeito do texto de Góes, que não apenas amaciou a brutalidade e a série de assédios da relação entre Bishop e Macedo, como também apagou da história o ferrenho apoio da poetisa ao golpe de estado que instaurou a Ditadura Militar em 1964.

Bishop não apenas apoiou o golpe, como foi acusada de entregar grupos de esquerda acusados de ler e discutir ideias comunistas. A escolha da poeta americana como homenageada da Festa Literária de Paraty (FLIP) em 2020, reacende a discussão de sua figura controvertida, além de sublinhar um terrível descaso com uma série de outras escritoras brasileiras, como Cecília Meirelles, Carolina Maria de Jesus e Lygia Fagundes Telles.

É possível que, inspirado pela homenagem, o espetáculo retorne a cena, ainda que para apresentações esporádicas, mas com um Brasil muito diferente daquela primeira versão, há 18 anos, e que provavelmente não se limitará a versão romântica e acrítica do texto de Góes.

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