APCA flerta com revolução de costumes, mas ainda transita em sua zona de conforto em premiação teatral

Tom na Fazenda, vencedor da categoria melhor espetáculo | Foto: Divulgação

Um dos prêmios mais tradicionais do teatro paulistano, o APCA (prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte) elegeu na noite de ontem, 09, os destaques do teatro paulistano de acordo com seu júri, formado por Aguinaldo Cristofani Ribeiro da Cunha (votou apenas no Grande Prêmio da Crítica e prêmios especiais), Celso Curi, Edgar Olimpio de Souza, Evaristo Martins de Azevedo, Gabriela Mellão, José Cetra Filho, Kyra Piscitelli, Marcio Aquiles, Michel Fernandes, Miguel Arcanjo Prado e Vinício Angelici.

Em acordo com suas edições anteriores, o APCA segue flertando com a revolução de costumes promovida na sociedade contemporânea, enquanto segue transitando por sua já conhecida zona de conforto.

Divulgada na noite de ontem, a lista dos laureados com em cada categoria do teatro soaram, como sempre, previsíveis. Ator que, de fato, se destacou na monótona encenação de Jardim de Inverno, Iuri Saraiva levou a categoria “melhor ator” desbancando nomes como Eric Lenate (numa das interpretações mais viscerais de sua carreira, no claustrofóbico solo Testemunho Líquido) e Pedro Vieira (pelo emocional solo De Volta a Reims). É verdade que, num elenco formado por titãs como Martha Meola, Erica Montanheiro, Ricardo Ripa, entre outros, o destaque para Iuri é solar, mas, dado o caráter do espetáculo, previsível.

O mesmo se pode dizer sobre a dramaturgia de Newton Moreno em As Cangaceiras – Guerreiras do Sertão. O dramaturgo, que já havia se provado imenso com a encenação de Agreste, só confirma sua predileção com um texto ótimo e de tom espetacularmente folhetinesco (um dado cada vez mais raro no teatro paulistano, dado a excessivas experimentações que podem resultar ininteligíveis). O dramaturgo desbancou Eloísa Elena e Vinicius Calderoni (em parceria com Gregório Duvivier) pelos igualmente excelentes Entre e Sísifo, respectivamente.

Já Débora Duboc, imensa em A Valsa de Lili, também se mostrou (boa) escolha óbvia, desbancando Lara Córdulla pelo solar desempenho em Dolores e Esther Laccava, pelo intenso Ossada.

Em total acordo com a ansiedade popular, o grupo premiou Jé Oliveira pela direção de Gota D’Água [Preta], desbancando direções mais incensadas, como a de Bruno Perillo em Chernobyl (responsável por tornar acessível e comunicativa a dramaturgia friccionada da autora francesa Florence Valéro), ou de Clara Carvalho e Cláudia Schapira, pelos respectivos Condomínio Visniec e Terror & Miséria, ignorando as irregularidades da adaptação de Oliveira para a obra de Chico Buarque de Hollanda e Paulo Pontes.

Tamanha irregularidade foi remediada pela laureação dada ao espetáculo Terror & Miséria na (incógnita) categoria especial ao lado da (irretocável) costureira Judite Gerônimo, que levou um prêmio pelo conjunto de sua trajetória nos bastidores do teatro brasileiro.

Confira abaixo todos os vencedores da edição 2019 do Prêmio APCA.

Grande Prêmio da Crítica: Danilo Santos de Miranda, por criar um polo de resistência no Sesc São Paulo para o teatro nacional. 

Espetáculo: Tom na Fazenda 

Direção: Jé Oliveira (Gota D’ Água {Preta}) 

Dramaturgia: Newton Moreno  (As Cangaceiras Guerreiras do Sertão) 

Ator: Iuri Saraiva (Jardim de Inverno) 

Atriz: Debora Duboc  (A Valsa Lili) 

Prêmio Especial: Espetáculo Terror e Miséria no Terceiro Milênio – Improvisando Utopias, pelo posicionamento político frente à realidade do País;

Judite Gerônimo de Lima, pela longa e importante trajetória como costureira de teatro.

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