Longe do viés ideológico, Regina Duarte pode ser aliada da classe artística no governo

Regina Duarte | Foto: Divulgação

Ao aceitar assumir, ainda que provisoriamente, a Secretaria Especial da Cultura durante o governo de Jair Messias Bolsonaro (sem partido), a atriz Regina Duarte não chegou a pegar a todos de surpresa, visto seu apoio irrestrito ao governo do ex-deputado federal pelo Rio de Janeiro desde o anúncio de sua candidatura a Presidência.

Contudo, da mesma forma que não surpreendeu, não se pode dizer que Duarte tenha seguido um caminho óbvio ao decidir adentrar o governo como uma de suas colaboradoras. Diferente de outros nomes, como Gilberto Gil e Sérgio Mamberti, a atriz jamais teve qualquer ligação com a política ou mesmo com a máquina pública. Nunca foi produtora de seus espetáculos, nem tampouco se envolveu com movimentos culturais ou mesmo sociais.

Diferente do que aconteceu com a atriz inglesa vencedora de dois prêmios Oscar Glenda Jackson, que abdicou da carreira nas artes cênicas para se eleger deputada e depois foi nomeada Ministra do Transporte para, em 2010, mais uma vez, se eleger deputada, Duarte jamais teve qualquer escopo político, sendo ligada basicamente à famosa frase “eu tenho medo”, quando da eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2003.

Contudo, a despeito do já comprovado despreparo da atriz, é interessante notar que Regina Duarte é uma escolha fora dos padrões para compor uma pasta no governo do atual presidente da república. Longe de quesitos ideológicos, a atriz sempre se portou como uma eleitora da direita e ponto final. Trabalhou com atores, autores, diretores, cenógrafos, cinegrafistas, visagistas e toda a sorte de profissionais ligados a esquerda, e jamais se ressentiu disso.

Chegou mesmo a ser uma das vozes contra a censura em plena ditadura militar e, se não aprendeu nada ao interpretar a protagonista da série Malu Mulher (1979-1980), também não se pode dizer que a atriz tenha se aliado ao pensamento da extrema direita, responsável por alçar (e por proporcionar a queda) de Roberto Alvim, o diretor teatral que se mostrou apoiador ainda mais ferrenho do governo Bolsonaro, adentrando com força à luta ideológica. Não é o perfil de Duarte.

É (muito) cedo para dizer ainda, mas a nomeação de Duarte pode (até) ser benéfica para a pasta da Cultura visto que, diferente de seu antecessor, não há em seus discursos até o momento nenhum viés de “guerra cultural”, ou desejo de censurar espetáculos sob o manto do “filtro artístico”. Pelo contrário, a despeito do apoio ao governo de Jair Messias Bolsonaro, Duarte se mostra cada vez menos adepta ao totalitarismo e pode mesmo se comprovar uma aliada do setor na gestão.

Por outro lado, outras hipóteses também parecem se alinhavar à futura gestão da atriz, dentre elas o esvaziamento de poder da pasta, tornando Duarte apenas um rosto para estampá-la. É possível que a atriz siga apenas ordens expressas do alto escalão governamental e seja facilmente manipulável.

É claro que são possibilidades a serem aventadas, mas uma coisa é certa, diferente de Roberto Alvim, Regina Duarte não depende do governo para sobreviver, seja em termos financeiros, seja em termos de prestígio. A atriz conta com quase 60 anos de carreira a seu favor, além do título de “eterna namoradinha do Brasil”. O que quer dizer que ao menor sinal de descontentamento, pode abandonar o barco sem receio.

Basta saber quão corajosa e alinhada à classe artística será Regina Duarte, que não só é figura constante nos palcos, como também é figura querida por boa parte da classe artística. Quem viver… 

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